sexta-feira, 17 de junho de 2016

Cadê as borboletas?

Eu trabalhava numa empresa, no centro do Rio, na Cinelândia, para ser mais exata, como atendente de telemarketing. Da janela do nosso setor era possível ver uma parte da praça Mahatma Gandhi e sempre víamos casais que passavam por lá diariamente. Uma vez, vimos um casal sentado no banco, a mulher no colo dele, se beijavam constantemente, parando apenas para respirar. Ela levantava, ele a puxava de volta e se beijavam. Ela levantava de novo, conseguia se desvencilhar das mão dele, ele levantava atrás dela, a abraçava e eles se beijavam de novo. Na despedida ficavam de mãos dadas e mais beijos, até que cada um ia para o seu canto. As meninas do meu trabalho, costumavam dizer que casal que se agarra muito, dessa forma, dentro de um curto período de tempo, são amantes. Logo, precisam aproveitar todo tempo que tem. 

Hoje, eu ainda trabalho no centro do Rio, mas agora próximo a praça XV. Quando saio do trabalho, vou para o ponto de ônibus, que fica em frente ao fórum. E foi lá que vi um casal. A menina encostada na parede, o rapaz de frente pra ela e sempre se agarrando e beijando muito. A primeira vez que os vi, veio o pensamento das meninas do meu antigo trabalho. No dia seguinte, eles estavam lá, inclusive nos dias de chuva, que cada um estava com suas capas de chuva coloridas, aquelas que a gente costumava usar para ir a escola quando criança. Foi aí que pensei:"E se eles não são amantes e sim, um casal em início de namoro?" e estou pensando nisso até hoje. 

No começo, tudo é lindo. A saudade é constante, as mãos tremem, borboletas no estômago, aquele frio na barriga, ansiedade que antecede o encontro, a falta de concentração ao longo do dia, o sorriso que nunca sai do rosto, muito tempo fazendo sexo, até descobrir o que outro gosta, a timidez inicial... Ou seja, a pessoa é perfeita, incrível e a colocamos num pedestal. Intocável. Sem defeitos. Semana passada, um amigo meu, Victor Gabry, publicou uma crônica linda e dizia algo (claro, dentro de outro contexto), que me chamou muita atenção, pelo simples fato de concordar com ele. 

"(..) as pessoas se tornam imperfeitas e humanas conforme convivemos.O pedestal é o lugar em que colocamos aqueles que consideramos perfeitos - e normalmente essas pessoas não ficaram tanto tempo assim conosco."

Quando começa a convivência, passamos a enxergar os defeitos e com isso vem as brigas, os conflitos diários, os hábitos irritantes... E mesmo com tudo isso, a pessoa não deixa de ser perfeita, porque ela é perfeita para você e para sua vida, só não é mais perfeita para o seu pedestal. 
Com relacionamento ficando longo, ele ganha algo chamado rotina. Alguém percebe quando o namoro/casamento entra na rotina? Não que isso seja ruim, é muito bom ficar em casa vendo séries e comendo gordices. Ou ir ao cinema. Ou ir a uma festa de família. A questão é: As borboletas no estômago param quando a rotina começa, quando pensamos que já conquistamos a pessoa amada e não precisamos mais nos esforçar ou ela é exclusiva para o início do relacionamento quando tudo ainda é novidade? Convenhamos que a conquista é diária, para ambos. Cair na rotina é inevitável: faculdade, trabalho, cansaço, preguiça, futebol, corridas, academia ou até mesmo o sedentarismo. Adaptar- se é preciso. Ceder algumas vezes, também. 

Eu não sei vocês, mas quando vejo um casal apaixonado na rua, dou um sorriso leve e penso que eles tem sorte de estarem nessa fase inicial ainda e gostaria de sentir isso de novo, com a pessoa que eu amo (exceto quando estou de TPM, que olho e mando eles irem para um quarto, porque não obrigada). Quem não sente falta de um beijo roubado, de ganhar flores sem data especial, uma visita inesperada no trabalho, ser levada pra casa e comer besteira pelo caminho, ser musa de um poema ou tema de uma música (peguei pesado, mas tem pessoas que escrevem bem e tem o dom pra isso), ganhar um café da manhã na cama, pelo simples fato de ser especial, ser surpreendida. Deixando claro que isso vale pros dois lados. 

Mesmo depois de pensar muito, escrever esse texto, a pergunta ainda fica: E as borboletas, cadê?