segunda-feira, 2 de maio de 2016

Eu, tu e ela

Sei que está um pouco cedo pra texto do dia das Mães, mas como estou inspirada e se eu esperar até domingo pra postar, posso acabar esquecendo. 

Eu não fui planejada, nem aceita, nem bem vinda. Fui um erro, entre duas pessoas, que no fim acabou sendo um acerto. Pelo menos é o que me falam. Quando minha mãe engravidou, teve de esconder da minha avó, que com a sua sagacidade, descobriu logo no início. Então, minha mãe tinha que resolver o problema. Depois de um momento morando com meu pai, descobriu que ele não estava separado da esposa, como havia dito e mantinha dois relacionamentos. Ela voltou pra casa da minha vó e enfrentou tudo o que vinha pela frente: a ira da minha avó, o meu tio dando opinião sobre a gravidez, que não queria que eu nascesse, mas que ela não podia tirar e nem dá a criança, ou seja, não ajudou em nada. A perda das "amigas"que deixaram de falar com ela, por estar grávida e não ser casada e ser mãe solteira, aos dezenove anos, em 1989, quando era vergonhoso ser mãe solteira. Hoje em dia ainda existe o julgamento sobre isso, mas naquela época você não podia falar muito pra se defender. Estava errada e ponto. 

Não cresci numa família tradicional. Segundo alguns babacas que estão no poder, Família Tradicional é: pai, mãe e filhos. o que considero de família tradicional é ser criado onde se tem amor. Isso eu tive (e tenho) de sobra. Criada por duas mulheres incríveis, minha avó, Julia Sousa e minha mãe, Ana Ruth, elas fizeram o dever de casa, muito melhor que várias famílias tradicionais por aí. Uma menina criada por duas mulheres? O que poderia sair daí? Muita coisa boa e divertida. 

Minha criação foi longe cheia de frescura e mimos, como costumavam dizer que seria, por ser filha única. Dona Julia, sempre severa, me obrigando a comer o que tinha na mesa, porque pobre não tem opção de escolher, tem que comer o que tem, sempre dizendo que elas duas eram minhas amigas, pra não depender de alguém pra fazer qualquer coisa na vida, não desistir dos meus sonhos por ninguém, estude, não se apegue aos homens, não arrume filho cedo, trabalhe, ganhe dinheiro e guarde algum pra velhice. Minha avó não levava desaforo pra casa e me ensinou a ser assim. Tenha sua própria voz e opinião. Mas de algum modo, eu a conquistei. Ela me mimava, mas era uma das formas de dizer que me amava, fazendo bolos de chocolates, canjica, canja, brigadeiros, pudim, aipim frito, bife acebolado e muitas outras coisas mais. Afinal, foram vinte e seis anos de guloseimas. Como a minha mãe não podia ir a muitos eventos da escola e nem reuniões, era sempre minha vó que estava lá. Minha mãe sempre trabalhou muito pra deixar o aluguel em dia e a comida na mesa. Minha avó trabalhou arduamente a vida inteira. No Maranhão, trabalhou em dois empregos pra dar uma boa educação aos filhos e aqui no Rio, limpava casas. Limpou até aos 79 anos, até que caiu, machucou o braço e teve que admitir que não tinha mais idade pra isso. Minha parte durona, grosseira, sincera, persistente e teimosa veio dela. Ela carinhosa, muito até, mas demonstrava do seu jeito.

Não podemos tirar o mérito da minha mãe. JAMAIS. Ela que me carregou por nove meses, passou dificuldades, já mencionados anteriormente. Trabalhou, estudou, pagou as contas, me deu livros infantis, fitas dos meus desenhos favoritos, me abraçava e me beijava enquanto tomava café, brincava de Maria Chiquinha, me deu cestas de café da manhã, presentes que nunca pensei em ter, acabou com espírito do natal quando eu tinha cinco anos (mãe, amei a bicicleta), me fez aprender a nadar, andar de bicicleta, patins, jogava jogos de tabuleiros comigo, banco imobiliário, Veja o Brasil, cara a cara, tapa a tapa, nunca me comprou um atlas (piada interna), mas me comprou dezenas de bonecas. Cantávamos juntas, ela me acalmou quando o Mufasa morreu e me disse que ia ficar tudo bem, que eu deveria prestar atenção no Simba, me fez gostar de filmes legendados, me apresentou Woody Allen, Tim Burton, Quentin Tarantino, John Woo.... E me fez gostar da sua maior paixão: cinema. Ela é o Yoda. E eu sou sua padawan, agora mestre Jedi, na crítica. Altamente treinada, pela melhor! 
A parte sensível, amorosa, doce, chorona, emotiva e a coragem de se jogar no desconhecido é toda da minha mãe. Ela comete erros, alguns rápidos de perdoar, outros nem tanto. Mas quem não comete erros? Qual mãe acerta em tudo? Qual mãe não tem medo? Qual mãe não comete o erro por proteger demais? Da mesma forma que ela me entendeu a vida inteira, preciso entender suas escolhas. Como diz na música do Renato Russo: "Você me diz que seus pais não entendem, mas você não entende seus pais" Mas sei que somos parceiras até o fim. 

Eu sei que ela vai chorar quando eu me formar, quando o primeiro neto nascer. E o segundo também. Vai mimar os netos, assim como vai educar. Vai me dar conselhos quando eu pedir. E quando eu não pedir também. Vamos brigar. Vamos fazer as pazes. Mas tenho certeza de uma coisa: não importa se tenho cinco, dez, quinze, vinte e sete ou cinquenta anos, ela vai me olhar dormir e fazer cafuné, dizendo que sou o bebê dela. Porque na cabeça dos nossos pais, nunca crescemos. Por eles, ficaríamos crianças pra sempre, só para ficar pra sempre debaixo das asas e sendo sempre protegidos. 

Fui um erro. Virei um acerto. 

Mãe, agradeço a Deus pela honra de ser sua filha e ainda mais por ter me dado uma mãe tão dedicada e maravilhosa. 

Obrigada por existir e feliz dia das Mães. 

Te amo de forma que nenhuma língua pode explicar e nenhuma matemática pode mensurar! 







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